Com a pandemia, pessoas que nunca tinham tido algum tipo de experiência em EAD, seja como alunos, professores ou gestores, começaram a se manifestar como se a Educação a Distância tivesse sido inventada em março passado.
Atuando há mais de 25 anos em Educação a Distância (EAD), (ver meu artigo de 1996, disponível no site da FAPESP – https://namidia.fapesp.br/educacao-e-tecnologia/19374), resolvi então convocar uma reunião com um grupo de especialistas em Educação, Cultura e Filosofia para debater um pouco o assunto.
Chamei Wiliam Shakespeare (WS), e o trio Sócrates (SO), Platão (PL) e Aristóteles (AR) para debaterem comigo, Paulo Milet (PM).
Claro que a reunião foi virtual (aliás eles só funcionam assim há muito tempo!) (**)…
PM – Bom dia a todos! Como estão? Desculpem se incomodo!
WS – Para o trabalho que gostamos, levantamo-nos cedo e fazemo-lo com alegria!
PM – E a turma da Grécia? Não vai falar nada? Precisamos do seu vasto conhecimento.
SO – Só sei que nada sei, e o fato de saber isso, me coloca em vantagem sobre aqueles que acham que sabem alguma coisa.
PL – A parte que ignoramos é muito maior que tudo quanto sabemos.
SO – Não sou nem ateniense, nem grego, mas sim um cidadão do mundo.
PM – Nossos educadores e governantes se preocupam com as crianças e jovens que estão em sala de aula e muitos acham que é cedo para EAD.
PL – A orientação inicial que alguém recebe da educação também marca a sua conduta ulterior.
PM – E, talvez pior que isso, vejo poucos preocupados com os adultos que evadiram da escola, pararam de estudar ou estão no mercado com o conhecimento defasado.
PL – Devemos aprender durante toda a vida, sem imaginar que a sabedoria vem com a velhice.
PM – É isso que defendo. o LIFELONG LEARNING é essencial no nosso país e principalmente com as mudanças causadas pela tecnologia. Novas profissões vão surgir. As pessoas devem ter isso em mente e aprender com prazer.
WS – O que não dá prazer não dá proveito. Em resumo, senhor, estude apenas o que lhe agradar.
SO – O homem para ser completo tem que estudar, trabalhar e lutar.
PL – A coisa mais indispensável a um homem é reconhecer o uso que deve fazer do seu próprio conhecimento
PM – Tenho encontrado muitos “especialistas” em EAD que afirmam muitas coisas sem estudar e aprofundar e acham que EAD é igual a vídeoaula. Não é só isso! Tem MICRO LEARNING, MASTERY LEARNING, ADAPTIVE LEARNING, FLIPPED CLASSROOM…
AR – Não há só um método para estudar as coisas.
AR – O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete.
PL – Não eduques as crianças nas várias disciplinas recorrendo à força, mas como se fosse um jogo, para que também possas observar melhor qual a disposição natural de cada um.
PM – Isso mesmo, tem a GAMIFICAÇÃO também que facilita o aprendizado!
PM – O papel dos professores tem que mudar. Não faz sentido um professor que apenas repete o que já está escrito, tanto faz se presencialmente ou em vídeoaula e acha que os alunos estão aprendendo.
SO – Eu não posso ensinar nada a ninguém, eu só posso fazê-lo pensar.
AR – A alegria que se tem em pensar e aprender faz-nos pensar e aprender ainda mais.
PM – Então o papel do professor é atuar como um CURADOR DE CONTEÚDO, selecionando, surpreendendo, provocando e incentivando os alunos a ler e pensar. Certo?
WS – Uma coisa bela persuade por si mesma, sem necessidade de um orador.
AR – O começo de todas as ciências é o espanto de as coisas serem o que são.
PM – Várias mudanças já estavam previstas para os próximos anos, mas a pandemia acelerou tudo e pegou muitos de surpresa! Precisamos cuidar de quem não tem recursos e prepara-los para as novas profissões e, mais ainda, novas habilidades (SOFTSKILLS) para qualquer profissão.
PL – Não espere por uma crise para descobrir o que é importante em sua vida.
WS – Não basta apenas soerguer os fracos; devemos ampará-los depois.
AR – Educar a mente sem educar o coração não é educação.
PM – Temos que ter em mente os aspectos Pedagógicos (para crianças), Andragógicos (para adultos) e Heutagógicos (auto aprendizado), mas o importante em qualquer dessas visões é que o foco seja no APRENDER e usar todo o conhecimento do mundo que está à disposição de todos na Internet.
WS – O que é que há, pois, num nome? Aquilo a que chamamos rosa, mesmo com outro nome, cheiraria igualmente bem e, completando, ninguém poderá jamais aperfeiçoar-se, se não tiver o mundo como mestre.
PM – Percebi em vários educadores, governantes e mesmo universidades, a preocupação com os alunos sem acesso à internet e muitos ficaram parados para não produzir mais distância entre quem tem e quem não tem recursos. Alguns falam em falta de consciência.
WS – O sábio não se senta para lamentar-se, mas se põe alegremente em sua tarefa de consertar o dano feito.
WS – É comum perder-se o bom por querer o melhor
PL – O começo é a metade do todo.
WS – Consciência é uma palavras usada pelos covardes para incutir medo aos fortes.
PM -Sócrates, o que você acha dessas salas de aulas com um professor à frente, 40 alunos recebendo a mesma informação no mesmo momento, independente do que já sabem, são ou gostam?
(SO) … há homens que serão persuadidos por certos discursos, enquanto os mesmos argumentos terão pouca ação sobre a alma dos outros. É mister que o orador que aprofundou suficientemente os seus conhecimentos seja capaz de discernir rapidamente, na vida prática o momento exato em que é oportuno usar uma ou outra forma de argumentação . ..
(PM) ótima resposta! Essa é a PERSONALIZAÇÃO da educação. Mas isso é praticamente impossível no ensino presencial. Se associarmos sistemas inteligentes que possam identificar permanentemente o perfil e saber de cada aluno é possível ao aluno aprender conforme você prega há tantos séculos!
PM- Acredito que um desafio para todos é viabilizar CONECTIVIDADE geral e métodos modernos de EAD, para que todos possam aprender a qualquer hora (ANYTIME), em qualquer lugar (ANYPLACE) e no seu próprio ritmo (PERSONALIZADO). Mas existem reações achando que aprender à distância é um mal.
SO – Existe apenas um bem, o saber, e apenas um mal, a ignorância.
AR – Todos os homens, por natureza, desejam saber.
PL – Não há nada bom nem mau a não ser estas duas coisas: a sabedoria que é um bem e a ignorância que é um mal.
WS – Não existe o bom ou o mau; é o pensamento que os faz assim.
PM – Pra encerrar, vocês acham que devo brigar mais pra convencer mais gente que a EAD é uma solução fundamental para o crescimento do País? Até a ONU aprovou um dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS4), até 2030, que só é viável com EAD. Muitos acham que EAD é uma barreira e não uma ponte!
WS – É mais fácil obter o que se deseja com um sorriso do que à ponta da espada.
PL – Às vezes você tem que levantar paredes, não para afastar as pessoas, mas para ver quem se importa o suficiente para derrubá-las.
PM – Obrigado! A conversa foi muito boa! Vocês me inspiram bastante! Vamos fazer outras reuniões como essa pra tratar de outros assuntos. Grande Abraço!
* Paulo Milet (PM). Formado em Matemática pela UnB e pós graduado em Adm. Pública pela FGV RJ – Consultor e empresário nas áreas de Tecnologia, Gestão e EaD.
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** Citações retiradas do site O PENSADOR
Esse texto é propositalmente provocativo. Quero especular um pouco sobre o mundo novo depois do coronavirus, seja lá quando esse momento chegar.
Será que vamos entrar direto no mundo 5.0? Já que o mundo 4.0 passou de passagem e viabilizou em 3 meses tudo que estava previsto acontecer em um movimento “acelerado” nos próximos 5 anos.
TeleTrabalho, TeleMedicina, TeleEducação, TeleVotações e muitas outras teleAlgumaCoisa aconteceram atropelando práticas, preconceitos, Conselhos, Governos, medos, inseguranças, acomodações e outros comportamentos.
Hoje vou provocar e explorar apenas um ponto: o impacto nas cidades, envolvendo mobilidade, habitação, comercio, transporte individual e coletivo.
Se um grande contingente de pessoas passa a não se deslocar para trabalhar, estudar comprar ou se consultar, o que acontece com o transito? E com as salas alugadas por empresas no centro? E com a opção de carros individuais (inclusive os elétricos)? E com as lojas? E com os colégios e salas de aulas?
Todos que estão compulsoriamente em quarentena em casa, estão percebendo que gastar duas horas (mínimo) para ir e voltar para o trabalho ou para o colégio/faculdade é um desperdício completo! O tempo economizado pode ser dedicado também ao estudo ou trabalho gerando ganhos de produtividade ou pode ser usado para atividades para as quais “não tenho tempo”, como laser ou filhos, por exemplo.
Mas essa pode ser uma grande oportunidade. Milhares de espaços ociosos nos centros das cidades não podem ser usados para equacionar o problema habitacional e ao mesmo tempo resolver o problema do abandono dos centros nos finais de semana? Uso de bicicletas, patinetes, metrô e sem circulação de carros não melhoram em muito os índices de poluição? Relacionamento com órgãos governamentais nos três níveis, e incluindo cartórios, não podem ser feitos permanentemente via online?
Enfim, o vírus e a Tecnologia, em uma aliança inesperada e surpreendente, viabilizaram mudanças que apenas podiam ser sonhadas para 5 a 10 anos.
Vamos aproveitar?
Por hoje fico por aqui. Depois vamos falar de economia, política, saúde, segurança, educação…
Paulo Milet
Vocês devem estar se perguntando: O que poderiam ter em comum D. Pedro II e a Educação a Distância (EaD)? Tá doido? Calma, antes de explicar essa doidera, me deixa contar um pouco da minha história com EaD.
Em 1986, eu era Superintendente de Depto no Serpro, fui participar de uma semana de treinamento, internado em um centro da IBM em São Conrado, Rio de Janeiro. Durante o dia, as atividades eram presenciais em sala de aula e, à noite, no quarto, você tinha acesso a um terminal IBM (daqueles verdões) com um sistema precário de Treinamento Baseado em Computador (CBT).
Foi nesse computador que fiz o meu primeiro curso online! A matéria do dia seguinte era apresentada, precedida por um pré-teste e seguida por um pós-teste. Minha nota no pré-teste às 20h? Nota 3. Minha nota no Pós-teste às 22h? Nota 9! Eu e o computador, sozinhos no quarto! Nesse dia, eu me apaixonei pela Educação a Distância e vi que FUNCIONA! Isso em 1986!
Separei alguns exemplos para os que acreditam que a EaD foi inventada apenas no Século XXI:
Em 1990 – lançamos na Comdex, em Las Vegas, um dos primeiros softwares de Hipertexto;
Em 1991 – Elaboramos treinamento em computador para ISO 9000;
Em 1992 – Treinamos as secretárias na Brahma, distribuindo 2.000 disquetes com cursos;
Em 1994 – Fizemos um projeto de língua portuguesa com a Academia Brasileira de Letras (prof Arnaldo Niskier) e com o Professor Sergio Nogueira (que, depois, ficou famoso com o soletrando);
Em 1999 – parceria com a Lotus/ IBM naquele que seria um dos primeiros LMS no pais, o Learning Space;
Em 2000 – Trouxe Jeanne Meister ao Brasil, autora do livro Corporate Universities, referência no mundo do treinamento empresarial;
Em 2001 – Treinamento para repositores (pessoal que arruma as prateleiras) no Carrefour;
Pô, e o Dom Pedro II? Cadê ele? – Calma, já já eu chego lá!
Em 2003 – Treinamento para motoristas de caminhão na empresa Autotrac de Nelson Piquet.
Em 2005 – Cursinho Pré-Vestibular on-line para alunos de classe média alta;
Em 2006 – Curso Supletivo on-line para quem largou o Ensino Médio;
Em 2009 – preparatório para o ENEM;
Em 2010 – Treinamento on-line para presidiários na penitenciária de Bangu, junto com o Afroreaggae;
Em 2013 – Capacitação de 4.000 alunos nas favelas do Rio junto com a CUFA;
Em 2016 – preparação da Universidade CEUB em Brasília para a Educação a distancia;
Em 2018 – curso de pós graduação com a Universidade Candido Mendes – UCAM no Rio.
E o que eu quero dizer com tudo isso? Quero dizer que EaD funciona, as pessoas aprendem, de qualquer idade, com qualquer cultura, com qualquer nível de formação, de qualquer renda.
Eu só não tinha experiência com crianças, mas a minha neta, desde os 4 anos, resolveu isso. Sem saber ler nem escrever, ela usa os comandos de voz do micro, acessa os canais de YouTube desejados para aprender as brincadeiras e a fazer slime, além de um monte de outras coisas.
Então, por tudo isso, não tenho mais paciência pra ouvir “será que funciona? ” ou “Mas a qualidade no presencial é maior que no EaD?”.
Nesses 34 anos, a grande certeza que tenho é que funciona, e muito! E, agora, no meio de toda a confusão da pandemia, vejo que nunca nada nem ninguém foi tão eficaz em prol do EaD quanto o Covid-19! Mesmo não sendo com os melhores modelos e técnicas, o que está sendo implementado ainda é precário, mas tá valendo!
As metodologias para tecnologias educacionais estão melhorando dia a dia. Três são os conceitos básicos: ANYTIME (Qualquer hora), ANYPLACE (Qualquer lugar) e no seu próprio RITMO, que atualmente caminha para a personalização (ou individualização do aprendizado).
Além disso, o ADAPTIVE LEARNING, que é o aprendizado adaptativo, onde o aluno faz um pré-teste e o sistema identifica o que ele já sabe ou não daquele assunto. A partir daí, direciona o conteúdo para o aluno considerando onde ele tem dificuldades. A informação e conhecimento são preparados por CURADORES de conteúdo, com base nas melhores referências daquele assunto.
MICRO LEARNING, que mostra os conteúdos em pequenas pílulas de conhecimento e MASTER LEARNING, que só permite que você avance, se mostrar que aprendeu a ultima lição. A Realidade Virtual (RV) e a Aumentada (RA) ampliam a possibilidade de você “viajar” e conhecer mais. Ao longo de toda a vida você aprende (LIFELONG LEARNING) e tem possibilidade de acessar às melhores fontes de conhecimento e os melhores autores, podendo até trocar idéias com esses próprios professores/tutores.
E Dom Pedro II? O que tem a ver com isso? – Eu explico agora:
Pedro II foi provavelmente o brasileiro que recebeu a melhor educação no século XIX e mesmo até hoje. Ele certamente não estudava em uma sala de aula com mais 40 alunos assistindo a fala de um professor e copiando o quadro negro.
Estudou caligrafia, literatura, matemática, geografia, ciências, pintura, música, esgrima e equitação. Seus interesses cobriam antropologia, geografia, geologia, medicina, direito, religião, filosofia, escultura, teatro, química, poesia e tecnologia. Em línguas, não menos impressionante, chegando a falar e escrever, além do português, latim, francês, alemão, inglês, italiano, espanhol, grego, árabe, hebraico, sânscrito e também em chinês e Tupi!
Aprendeu a vida inteira (LifeLong Learning). Tinha professores selecionado, acesso à informações atualizadas e conversava com as melhores cabeças do mundo. Ganhou o respeito e admiração de estudiosos como Graham Bell, Darwin, Victor Hugo e Nietzche, também foi amigo de Wagner e Pasteur, dentre outros (curadores de conteúdo).
Estudava ao longo do dia (Anytime) em qualquer lugar (Anyplace). Tinha professores particulares que identificavam o que ele já sabia e avançavam nos novos conhecimentos (Adaptive Learning).
Dom Pedro II gostava de viajar para centros turísticos de prestígio histórico e chegou a visitar as pirâmides do Egito, a Dinamarca, Suécia, Finlândia, Império Russo, Império Otomano e Grécia. Depois, foi para a Terra Santa, Itália, Áustria, Alemanha, França, Grã-Bretanha, Países Baixos, Suíça e Portugal; Nos Estados Unidos foi a Nova Iorque, São Francisco, Nova Orleães, Washington, e Toronto, no Canadá (Realidade Real – RR e não Virtual).
Tornou-se o primeiro brasileiro fotógrafo, uma de suas paixões, quando adquiriu uma câmera de daguerreótipo em 1840. O imperador conheceu Graham Bell, que havia inventado o telefone e, junto ao inventor, testou a nova invenção. Admirado com o mecanismo, Pedro fez questão de que o Brasil fosse um dos primeiros países do mundo a possuir um telefone.
E então? Perceberam? O que era caro, único e exclusivo, válido apenas para um único Brasileiro, agora, com a EaD, caminha para reunir as melhores formas de aprendizado e disponibilização de conhecimento, seja para o ensino formal, quanto para os hobbies ou laser, preparadas pelos melhores professores e disponível a toda hora e a qualquer momento ao longo de toda a vida.
Esse já é o presente para alguns, eu gostaria que fosse o futuro para todos, que seriam “aprendentes” ecléticos e permanentes como foi Dom Pedro II!
* Paulo Milet é empresário e consultor e EaD e Universidades Corporativas
twitter @MiletPaulo – Linkedin Paulo Milet – Site eaducam.com.br REF sobre D. Pedro II: Wikipedia Pedro II do Brasil
Eu gosto de falar de EaD com base em uma experiência acumulada de mais de 30 anos nessa área, mas gosto também de reunir exemplos originais de como a tecnologia pode ajudar a melhorar todos os processos, inclusive o de aprendizado.
Em 1960, eu estava no segundo ano do antigo primário e o meu pai um dia trouxe um livro sobre mamíferos, onde, no meio de várias fotos e textos sobre animais conhecidos, havia um estranho – o ornitorrinco – que era caracterizado como um mamífero que põe ovos!
Registrei a informação curiosa e levei o livro para a minha escola (Chapeuzinho Vermelho, no Rio de Janeiro).
Nesse dia, a professora (coitada!) ao falar de animais, disse a tal frase: “os mamíferos não põem ovos”.
E eu, na minha arrogância dos 8 anos, retruquei: “Tia, e o Ornitorronco?”. Claro que ela nunca tinha ouvido falar e eu tive que levar o livro lá na frente para provar o que eu falava. (Não me lembro se recebi um elogio ou um castigo, kkkk).
Mas, porque esse exemplo?
É que, hoje em dia, os professores não podem querer concorrer em conhecimento com a internet. A internet não é um simples livro com curiosidades. É um manancial de informações aos milhares (milhões) sobre qualquer assunto, sejam ornitorrincos ou não.
Com a EaD, o papel dos professores tem que mudar e deixar de ser apenas um fornecedor de informações que já estão registradas, e passar a exercer um papel misto de curador de conteúdo (selecionador), provocador de raciocínios, correlacionador de teorias com exemplos próximos aos alunos e certamente de incentivador de pesquisas na internet.
A pandemia acelerou vários processos, inclusive o de Tele Educação, mas os professores (coitados) foram jogados no meio da confusão e obrigados a atuar de um modo para o qual não estavam preparados (parabéns a todos pelo esforço).
Quando acabar essa fase terrível, o retorno vai se dar em modos híbridos de educação, com aulas presenciais, muitas atividades à distância (professores, vamos olhar os games e um tal de tik tok pra aprender como as crianças estão aprendendo?) e com os governos preocupados em prover conectividade para todos. Vamos aproveitar para sair melhor do que entramos?
A preparação para fazer uma prova de Concurso Público, por mais difícil que este seja, nada mais é que um processo e, como tal, pode ser gerenciado e otimizado. Esse artigo trata, não simplesmente de um método de estudo, como tantos que existem na Internet, mas sobre um método para GERENCIAR o estudo e o aprendizado. É certo que o nível de detalhe aqui será mínimo, mas certamente, se bem aplicado, levará ao resultado desejado.
Um ALERTA IMPORTANTE! Se você não tem disposição, interesse, paciência ou curiosidade para ler nem essas 3 páginas até o fim, pode desistir, dificilmente você vai conseguir passar em um concurso, com ou sem método.
Qual o conceito de processo? – Um conjunto de atividades, interrelacionadas, que tem por objetivo satisfazer um cliente. O cliente do processo “Preparação para Concurso”, claro, é você mesmo, o próprio concursando! Está claro que satisfazer esse cliente nada mais é que passar no concurso.
Uma definição, famosa entre concurseiros, é que “Você não estuda para passar, mas estuda até passar!”. Isso implica em ciclos e numa certeza de que a preparação para concursos não se encerra na primeira não aprovação, antes pelo contrário, cada concurso realizado é um degrau a mais que se sobe na direção do objetivo final.
Além disso, as matérias exigidas em cada concurso são muito similares, não divergindo demais entre um concurso e outro. Quase sempre você vai encontrar Português, Informática, Raciocínio Lógico, Direito Administrativo, Constitucional, Regimentos Internos e coisas parecidas. Assim, o fundamental é você entrar em um processo de ESTUDO PERMANENTE, até alcançar o OBJETIVO FINAL de conseguir a aprovação em um concurso.
DICA 1 – Defina seu OBJETIVO FINAL com clareza e detalhes. Imagine como vai ser sua vida depois dele alcançado. Pense em quanto você vai ganhar, que mudanças boas isso vai trazer para sua vida a de pessoas queridas. Junte RAZÃO e EMOÇÃO no seu objetivo final. Escreva, desenhe, cole na parede.
Leia vários editais de concursos. Converse com pessoas que já passaram e com quem não passou. Coloque na sua cabeça que não vai desistir por conta de uma não aprovação. Ao contrário, fique satisfeito com o ganho obtido em cada Concurso, mesmo sem aprovação.
Agora vamos à segunda grande DICA. Precisamos definir METAS intermediárias, na realidade uma única meta, de modo que o resultado possa ser comparado a cada rodada.
DICA 2 – Sua META deve ser, a cada concurso, obter, em cada matéria, NOTAS MAIORES QUE AS OBTIDAS NO CONCURSO ANTERIOR.
Cumprindo essa meta, seu objetivo vai se concretizar certamente em algum momento futuro. A grande lição aqui é que você não precisa se preocupar com os outros, nem com a relação candidatos/vaga, nem com qual foi a nota dos seus amigos (ou inimigos). Basta se preocupar com a SUA NOTA ATUAL e verificar se ela foi maior que a SUA NOTA ANTERIOR naquela matéria. Em determinado momento, depois de alguns ciclos com essa meta de melhoria contínua cumprida, você vai CERTAMENTE obter os pontos necessários.
DICA 3 – Aplique o MÉTODO GERENCIAL à sua preparação. O método que todos os gerentes e administradores envolvidos com programas de qualidade aprenderam é o PDCA. Aplicado aos Concursos, P significa PLAN – conjunto de atividades que é feita ANTES das Provas. D significa DO, conjunto de atividades que se faz DURANTE as provas, C = CHECK, conjunto de atividades que se faz depois das provas, e finalmente A = ACT, conjunto de atividades feitas no sentido de corrigir o que não tenha dado certo.
E é esse método que vamos aqui aplicar para mostrar como atingir o OBJETIVO FINAL, aprofundando essa segunda dica para cada uma das ações do PDCA:
PLAN (Planejar/Preparar): Leia com atenção o Edital do próximo concurso. Verifique quais são as matérias pedidas. Mapeie o terreno. Faça um simulado de concursos anteriores. Verifique em que nível você está. Verifique quais são seus pontos fortes. Quais seus pontos fracos em cada matéria. Conheça a Instituição para onde é dirigido o concurso. Veja suas atribuições. O que ela faz? Para que serve? E o cargo? Qual a função? Leia bastante. Não apenas o material do concurso. Leia com a intenção de entender a lógica e o contexto. As informações vão se encaixando. Busque recursos e fontes (Cursos Presenciais, Cursos Online, e-books, exercícios resolvidos, vídeo-aulas,…). Prepare apresentações sobre as matérias. Prepare material para ensinar para seus amigos (Preparar aulas é uma das melhores maneiras de aprender). Aprenda técnicas e ferramentas para melhorar o aprendizado (Leitura Dinâmica, Aprendizagem Acelerada, PNL, Análise Crítica, Mind Maps,…). Faça exercícios para memória. Faça diagramas e quadros. A memória visual ajuda muito. Fale alto, para você mesmo. A memória auditiva agradece. Faça exercícios de respiração, meditação e concentração. Aprenda a controlar a ansiedade.
Ah! Não se esqueça de fazer a inscrição e checar locais e horários. Não vá morrer na praia!
DO (Executar, Fazer): Esse é o dia da prova. Tenha uma noite de sono tranqüila. Não adianta se matar de estudar na véspera. Coloque na sua mente que esse é apenas mais um passo. Planejado e organizado. E que qualquer resultado será um aperfeiçoamento. Releia o Edital. Veja as regras para o dia da prova. Chegue com antecedência. Na hora da prova, leia com atenção. Releia. Você estudou. Você sabe. Se aquela questão não tiver sido estudada, pule e volte no final. No caso de múltipla escolha, leia as opções. Elimine algumas. Mantenha a respiração controlada todo o tempo. De tempos em tempos pare e respire. A tensão atrapalha o raciocínio e a memória.
CHECK(Controlar/Verificar): Veja o resultado. Passou? Comemore bastante! Não passou? É apenas mais um passo. Compare suas respostas. Veja quantos pontos. Veja o que errou. Entenda porque errou. Você sabia e deu um branco? Faltou entender melhor a questão? Você não sabia realmente? Não estudou aquele ponto? Veja quais foram as suas melhores e piores notas. Veja quais foram as notas dos que passaram. Aproveite o resultado para aprender. Aqueles pontos você não erra mais.
ACT(Atuar corretivamente, consertar): As atividades de ação corretiva não são feitas separadamente. Na realidade elas usam os resultados do CHECK para corrigir o PLAN e corrigir o DO. O que faltou? Faltou estudar determinado ponto? Você estudou mas não absorveu? Não lembrou na hora? Ficou nervoso? O objetivo dessa fase é fazer com que os erros antigos não se repitam. Cometa erros novos! Eles ervem de aprendizado. Repetir erros velhos é burrice. O que você vai fazer em relação a cada um dos erros? Estudar mais? Fazer exercícios para memória? Tomar aulas de meditação, Ioga ou respiração? Formar um grupo de estudo? Não fique parado se lamentando. Parta para a próxima! Agora você sabe mais do que antes.
Veja na figura um resumo do MÉTODO para atingir a META a cada rodada e chegar ao OBJETIVO FINAL (falta o desenho..)
ANTES NO DIA DEPOIS
Último Concurso — P (Planeja)- D(executa)- C (checa) = APROVAÇÃO!
Penúltimo Concurso — P (Planeja)- D(executa)- C (checa) – A (corrige)
Terceiro Concurso — P (Planeja)- D(executa)- C (checa) – A (corrige)
Segundo Concurso — P (Planeja)- D(executa)- C (checa) – A (corrige)
Primeiro Concurso — P (Planeja)- D(executa)- C (checa) – A (corrige)
DEFINIR OBJETIVO FINAL
Voce é o GERENTE da sua vida. Tome as rédeas e siga o caminho que te interessa. Não fique improvisando achando que de repente vai passar. Se isso é importante para você, trate com cuidado e atenção. Dedique tempo e comemore no final!
Paulo Barreira Milet é empresário, consultor, ex-funcionário público e especialista em TI, Gestão e Educação a Distancia. Formado em Matemática pela UnB com MBA em Administração Pública pela FGV/Rio. Sócio e Diretor da ESCHOLA.COM – e-mail: pmilet@eschola.com
Com a crise mundial causada pelo virus, várias mudanças previstas para acontecer paulatinamente nesses próximos anos, foram exponencialmente (agora todos sabem o significado) aceleradas, principalmente pela Tecnologia, e estão forçando governos, empresas e pessoas a promover mudanças imediatas.
Muitos preconceitos foram vencidos, não por convencimento, mas por necessidade.
Trabalhar de casa (Home Office), Educação a Distância (EaD) e Consultas médicas online (TeleMedicina) são algumas das mais óbvias. Aliadas a uma explosão do ecommerce e cada vez mais a desintermediação de tarefas, esse movimento acelerado está gerando mudanças ocasionais, e que vão se transformar em estruturais após a tempestade.
Nada mais será como antes, não existindo a menor possibilidade de um retorno ao normal anterior à pandemia.
O controle do caixa, as demissões, a queda no consumo, as otimizações aceleradas de processos, as automações planejadas ou improvisadas, os acordos de redução de jornada formam algo que eu não chamaria de um novo normal, mas sim um “renascer” onde o destaque será não a resiliência (capacidade de resistir) , mas sim a antifragilidade (capacidade de crescer com a crise).
Mas e as pessoas? Se algumas tem alguma capacidade de resiliência, muito poucas terão a caracterísrtica antifrágil e precisarão de ajuda pra vencer essa fase ou no mínimo sobreviver.
Kai-Fu-Lee, no seu excelente livro Inteligência Artificial (IA), lançado em 2018, isto é, bem antes do “lançamento” do coronavirus, preocupado com o possível desemprego causado pelo avanço da IA, propõe a adoção das medidas que ele chamou de “Os três Rs: Reciclar (o conhecimento das pessoas), Reduzir (a carga de trabalho) e Redistribuir (a renda)”, ao longo dos próximos anos. Inteligentemente, Lee não considera a ideia fechada.
Antes pelo contrario, ele diz claramente que essas três possibilidades devem
ser bem pensadas e devem incorporar “comos” e ideias do maior número de pessoas.
Eu, pessoalmente, acredito que esses três verbos são totalmente aplicáveis quase que de imediato, em paralelo ou assim que a crise entrar na sua fase descendente (algumas semanas? meses?).
RECICLAR: Atualização de conhecimentos. As novas funções, atividades e profissões não estão sendo cobertas pelas entidades educacionais convencionais. O conceito de Life Long Learning (aprendizagem ao longo de toda a vida) precisa ser imediatamente considerado e priorizadas essas novas funções e profissões. Além dos novos conhecimentos, recuperar os que evadiram (dropout recovery) do ensino convencional e disponibilizar para esses, de modo online e gratuito, todas as trilhas de conhecimento necessárias para fechar seus ciclos nos ensinos fundamental e médio
(São mais de 50.000.000 os que abandonaram os estudos nesses níveis).
REDUZIR: A redução de carga de trabalho normalmente não aparece entre as soluções possíveis para o desemprego, mas a matemática torna isso óbvio. Simplificadamente, se 100 milhões querem trabalhar e 10% não conseguem, se reduzirmos a carga de trabalho na mesma proporção, o trabalho ocupará toda a PEA. Claro que isso teria que ser sincronizado com o R anterior (Reciclagem).
Estamos acostumados com uma jornada de trabalho de 40/44h por semana, ou 8h por dia, como se isso fosse uma lei universal com uma lógica imutável. Nada mais enganoso. Vários países no mundo adotam cargas diferenciadas, por exemplo: Holanda, Dinamarca, Alemanha e França ficam no limite de 35h.
E de onde veio essa carga? É relativamente recente. Basicamente vem do inicio do século XX, como uma correção nas cargas abusivas da revolução industrial. Em 1919 a OIT definiu 48h e em 1935 corrigiu para 40h. Ora, se estamos no limiar de uma nova revolução, porque não ousar nesses campo? Podemos buscar inspiração não no futuro, mas no passado, mais precisamente na Ilha de Utopia descrita em 1516 por Thomas Morus:
“Se todos trabalhassem, a carga horária diminui para todos. Havendo seis horas apenas para trabalhar, esse tempo é suficiente para produzir bens abundantes que bastem para as necessidades e que cheguem não apenas para remediar, mas até sobrem.”
“Nesta ilha dividem-se o dia e a noite em 24h exatas e destinam-se ao trabalho apenas 6 horas com intervalo para refeição e seguida de ceia. As 8 da noite vão para a cama, dando 8 horas de sono. O tempo livre entre o trabalho, as refeições e o sono é ocupado livremente por cada indivíduo, como melhor entender.”
E Porque não? Seria utópico? (Com o perdão do trocadilho).
REDISTRIBUIR: Redistribuição da riqueza. Essa discussão vem de muito tempo e defende que cada trabalhador tenha uma Renda Universal Básica, com ou sem contrapartida de trabalho. A argumentação é social e defende que todo ser humano deve ter suas necessidades básicas atendidas. Nesse campo, vimos uma decisão corajosa ser aprovada em questão de dias no Brasil, com uma renda de R$ 600,00 por pessoa com renda abaixo de determinado piso. O Bolsa família já era uma tentativa nessa direção.
E de onde viria inicialmente o dinheiro para esses desembolsos? Vou me socorrer com André Lara Resende, que, no seu livro Consenso e Contrassenso, recupera a MMT, sigla em inglês para a Moderna Teoria Monetária, permitindo a emissão para financiar gastos sociais, respaldado pelo que aconteceu na crise de 2008 e com o controle de juros e eu completo aqui com a crise do corona virus em maior escala.
Atravessando e completando essa discussão, precisaríamos ter uma maneira de “formalizar ” o trabalho, de modo que esse não estivesse em desvantagem em relação ao emprego formal, criando em paralelo o conceito de destrabalho (ver José Roberto Affonso) além de desemprego.
Com um pouco de boa vontade e uma dose adicional de inteligência por parte dos governos, parlamento e empresas, certamente seria possível definir um plano com um horizonte de, vamos dizer, 10 anos, para que essas medidas estejam total e progressivamente implantadas, claro que em paralelo com ações fundamentais na saúde, habitação, saneamento e mobilidade.
Paulo Barreira Milet
Sócio diretor da eschola.com e da INOVA EAD e Consultor em Gestão,
Programas de Qualidade e Educação a Distância, com mais de 35 anos
de experiência em educação à distância, Bacharel em Matemática
pela UnB (1975), Pós-Graduado em Administração Pública pela
FGV-Rio (1982/83). Mestrando em Engenharia de Sistemas pelo
COPPE/UFRJ (1976/77) – especialista em Gestão de TI; Consultoria em
Programas de gestão e Qualidade e Especialização;
e pioneirismo em Educação a Distância.
Esse texto é propositalmente provocativo. Quero especular um pouco sobre o mundo novo depois do coronavirus, seja lá quando esse momento chegar.
Será que vamos entrar direto no mundo 5.0? Já que o mundo 4.0 passou de passagem e viabilizou em 3 meses tudo que estava previsto acontecer em um movimento “acelerado” nos próximos 5 anos.
TeleTrabalho, TeleMedicina, TeleEducação, TeleVotações e muitas outras teleAlgumaCoisa aconteceram atropelando práticas, preconceitos, Conselhos, Governos, medos, inseguranças, acomodações e outros comportamentos.
Hoje vou provocar e explorar apenas um ponto: o impacto nas cidades, envolvendo mobilidade, habitação, comercio, transporte individual e coletivo.
Se um grande contingente de pessoas passa a não se deslocar para trabalhar, estudar comprar ou se consultar, o que acontece com o transito? E com as salas alugadas por empresas no centro? E com a opção de carros individuais (inclusive os elétricos)? E com as lojas? E com os colégios e salas de aulas?
Todos que estão compulsoriamente em quarentena em casa, estão percebendo que gastar duas horas (mínimo) para ir e voltar para o trabalho ou para o colégio/faculdade é um desperdício completo! O tempo economizado pode ser dedicado também ao estudo ou trabalho gerando ganhos de produtividade ou pode ser usado para atividades para as quais “não tenho tempo”, como laser ou filhos, por exemplo.
Mas essa pode ser uma grande oportunidade. Milhares de espaços ociosos nos centros das cidades não podem ser usados para equacionar o problema habitacional e ao mesmo tempo resolver o problema do abandono dos centros nos finais de semana? Uso de bicicletas, patinetes, metrô e sem circulação de carros não melhoram em muito os índices de poluição? Relacionamento com órgãos governamentais nos três níveis, e incluindo cartórios, não podem ser feitos permanentemente via online?
Enfim, o vírus e a Tecnologia, em uma aliança inesperada e surpreendente, viabilizaram mudanças que apenas podiam ser sonhadas para 5 a 10 anos.
Vamos aproveitar?
Por hoje fico por aqui. Depois vamos falar de economia, política, saúde, segurança, educação…
Paulo Barreira Milet
Sócio diretor da eschola.com e da INOVA EAD e Consultor em Gestão,
Programas de Qualidade e Educação a Distância, com mais de 35 anos
de experiência em educação à distância, Bacharel em Matemática
pela UnB (1975), Pós-Graduado em Administração Pública pela
FGV-Rio (1982/83). Mestrando em Engenharia de Sistemas pelo
COPPE/UFRJ (1976/77) – especialista em Gestão de TI; Consultoria em
Programas de gestão e Qualidade e Especialização;
e pioneirismo em Educação a Distância.
Aprender é um momento mágico que acontece quando a informação vira conhecimento. Isso é uma transformação que ocorre dentro do cérebro humano. É um click! Aquelas palavras encadeadas que procuravam dar um sentido a um conjunto de informações, de repente, click! Viraram conhecimento.
Esse momento mágico é que devia ser o objetivo de qualquer escola. Ensinar a aprender. Ensinar a transformar informação em conhecimento e conhecimento em ação, que é o próximo passo.
Qual o objetivo do ensino regular? Preparar a pessoa a viver em sociedade, com um conjunto de conhecimentos que permita a ela se inserir nesse ambiente, se relacionar, produzir, consumir, enfim, viver!
Várias são as funções básicas para que isso seja possível. Uma delas é a comunicação, o uso da linguagem para exprimir idéias e sentimentos e compreende-los. Outra é a matemática. A correlação quantitativa das coisas e eventos. Outra mais, a história. O relato dos o quês e por quês que trouxeram o mundo em geral e o nosso país em particular até aqui.
Outra, as Ciências, tratando da natureza, do ser humano e das suas interrelações nos níveis químicos, físicos e biológicos. E o nosso ambiente? A Geografia, a ecologia, e as relações sociais.
Esse entendimento, que deveria ser primário, talvez não seja reconhecido pelos alunos como o objetivo do aprendizado. Talvez para eles o mais correto seria dizer: eu estudo para passar, ou estudo para me formar, ou estudo para ter um emprego e ganhar dinheiro.
A finalidade básica do aprendizado foi esquecida e mais do que isso foi deturpada. O estudo virou uma obrigação desagradável, como também o trabalho. Não precisa ser assim. Tanto um (estudo) quanto outro (o trabalho) devem ser atividades prazeirosas. O aprender nunca é chato. Estudar, sim, pode ser.
Imaginem um indiozinho há 500 anos. Quando ele saia com o pai, para aprender a caçar ou pescar, o que era isso? Uma atividade lúdica onde a finalidade era bem clara e que, assim que concretizada, habilitaria o jovem índio para o futuro.
Essa correlação se perdeu atualmente em função da variedade e complexidade das informações e conhecimentos que temos disponíveis para nós e que precisam ser usadas para produzirem informações, ações e conhecimentos que poderemos usar e vender para o nosso sustento.
Alunos, pais e professores, devem descobrir a forma de fazer com que nossos jovens sintam como o jovem índio que aquele aprendizado tem valor e, além disso é gostoso.
Essa deve ser a nossa busca.
Nossos jovens que estão hoje na faixa do vestibular, em torno dos 18 anos, trabalharão cerca de 50 anos até a aposentadoria, se até lá ainda existir essa figura. Nesses 50 anos, em média trocarão de profissão pelo menos meia dúzia de vezes. Serão técnicos do assunto A, depois gerentes, depois o assunto A vai virar B, a tecnologia criará C que derivará em D e assim sucessivamente.
O aprendizado na faculdade estará tão datado quanto um litro de leite no mercado. Teremos prazo de validade para o nosso conhecimento, que estragará se não for consumido a tempo, ou reciclado.
Temos a oportunidade agora com a Internet. As informações estão lá. Nunca antes pudemos estabelecer uma correlação tão forte quanto agora, entre o que podemos aprender e como podemos aplicar em nossa vida. Muitas das profissões hoje em dia (e cada vez mais) são substancialmente baseadas em informações e o seu tratamento. São o mundo dos bits (jornalismo, direito, tradução, pesquisas, economia, administração ..). Essas profissões serão quase que totalmente exercidas via Internet. Nas outras, que tratam do mundo físico (medicina, engenharia…), o componente informação será cada vez maior.
Precisamos aprender sobre processos e projetos independente de “para que”. Precisamos aprender sobre clientes e fornecedores independentes de quais. A metodologia e a tecnologia empregada vai ser a do momento. Não podemos nos apegar a nossa profissão original porque não sobreviveremos. Vamos procurar sempre o porque das coisas e saber que o “o que “ e o “como” são circunstancias.
Vamos aprender sobre pessoas, relacionamentos e comunicação. Entender o que motiva e o que afasta. Entender que apenas duas emoções movem a humanidade. O amor (prazer, satisfação, felicidade) que faz com que procuremos nos aproximar e o medo (dor, raiva) que faz com que procuremos nos afastar.
Aprender o que é natural e o que é cultural. Os dois são importantes. Comer é natural. Comer com talher é cultural. Necessidades fisiológicas são naturais. Usar o banheiro é cultural. Sexo é natural. Com camisinha é cultural. Entender que o cultural é vinculado ao tempo em que a ação se situa. O conceito de certo e errado e bem e mal é cultural e depende do que a sociedade combinou por meio de constituição, leis, portarias, regulamentos, códigos, acordos etc.
Quando será que nossos jovens vão aprender dessa maneira?
Paulo Barreira Milet
Sócio diretor da eschola.com e da INOVA EAD e Consultor em Gestão,
Programas de Qualidade e Educação a Distância, com mais de 35 anos
de experiência em educação à distância, Bacharel em Matemática
pela UnB (1975), Pós-Graduado em Administração Pública pela
FGV-Rio (1982/83). Mestrando em Engenharia de Sistemas pelo
COPPE/UFRJ (1976/77) – especialista em Gestão de TI; Consultoria em
Programas de gestão e Qualidade e Especialização;
e pioneirismo em Educação a Distância.
Tradicionalmente as pessoas associam que a educação individual acontece naquele período em que você está frequentando os bancos escolares, desde o maternal até a pós-graduação, ou encerrando naquele momento em que você abandona os estudos, mas, normalmente, antes dos 30 anos de idade.
Nada mais falso ou, no mínimo, obsoleto, como nos relata YuvalNoahHarari, no seu excelente – 21 Lições para o século XXI;
“Desde os tempos imemoriais a vida foi dividida em duas partes complementares; um período de estudo seguido de um período de trabalho. Na primeira parte você acumulou informação, desenvolveu aptidões, formou uma visão do mundo e construiu uma identidade estável…Na segunda parte, confiou em suas habilidades acumuladas para percorrer o mundo, ganhar a vida e contribuir para a sociedade… Em meados do século XXI, mudanças aceleradas e vida mais longa tornarão o modelo tradicional obsoleto.“.
O APRENDIZADO, prefiro chamar assim, ocorre permanentemente e tem que ocorrer ao longo de toda a vida. SEMPRE!
Reunir estudantes em um mesmo local e dentro de um mesmo horário parece ser uma solução inspirada no modelo industrial onde o acesso e a quantidade de professores era escasso e a tecnologia de ensino-aprendizagem teria que ser certamente presencial.
O Conceito moderno, e que muda isso, é o de “Lifelong Learning” ou Aprendizado ao longo da vida inteira.
A expectativa de vida da população no mundo inteiro, após séculos de estagnação na faixa de 40 anos de idade, passou a crescer aceleradamente, dobrando nos últimos duzentos anos e continuando a crescer.
Isso significa que, cada vez mais, as pessoas não podem se conformar com o que aprenderam naqueles “poucos” anos de estudo. O que impede atualmente uma pessoa aos 50 anos estudar e entrar em uma nova profissão e exerce-la por muitos anos?Ou que alguém que abandonou os estudos aos 15 anos retorne e reforce sua formação?
Mas será crível o retorno dessas pessoas à sala de aula convencional? Conciliar o estudo com o trabalho? Encarar o deslocamento, o transito e os engarrafamentos?
AsTecnologias de Informação e Comunicação (TICs) já permitem e incentivam, cada vez mais, o trabalho e a Educação à Distância (EaD).
Depois de alguma desconfiança em relação àsua qualidade, a EaDganha rapidamente posição de destaque no mundo todo. Inicialmente pelas universidades e empresas, agora se expande rapidamente pelas plataformas educacionais, cursos livres, vídeos, games, Realidade Virtual e Aumentada, Inteligência Artificial e muitas outras técnicas, compondo um imenso bloco de Tecnologias Educacionais e transformando o ensino e o aprendizado em algo que não depende de local fixo (anyplace), nem de horário rígido (anytime) e nem de alinhamento com o conhecimento dos colegas (no seu próprio ritmo).
Para aqueles que duvidam da qualidade do aprendizado usando esses métodos modernos eu gosto de citar um exemplo interessante:
Talvez o melhor estudante/aprendiz em toda a história do Brasil tenha sido D. Pedro II. Além da sua curiosidade e inteligencia natas, ele dispunha dos melhores professores cobrindo qualquer assunto: podia estudar nos momentos que desejasse e no local em que estivesse; tinha acesso às informações mais atualizadas em todo o mundo. Lia Platão, trocava ideias com Pasteur e Victor Hugo; Ia em busca do conhecimento e das informações que desejasse, porém, poucos tinham condições como ele.
Mas agora, com a tecnologia disponível, essas condições podem estar disponíveis para todos e não apenas para os nobres. Aprender àqualquer momento e em qualquer lugar. Acessar qualquer informação super atualizada dos melhores autores. Estudar com materiais didáticos produzidos pelos melhores professores de Harvard, MIT ou Oxford.
Essa é a ideia com a EaD moderna! Uma grande democratização no acesso ao conhecimento! As condições técnicas existem, faltam apenas as decisões políticas.
A ONU, no seu ODS 4 – Objetivo do Desenvolvimento Sustentável para 2030 estabelece: Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos
Objetivo impossível com os métodos convencionais de ensino/ aprendizagem.
Podemos estimar em cerca de 10 milhões os adultos com o Ensino Médio incompleto e em 25 milhões aqueles que completaram mas interromperam seus estudos. Somados aos milhões que abandonaram o Ensino Superior e mais de 40 milhões com o Fundamental incompleto, teremos mais de 80.000.000 (!) de brasileiros adultos que precisam de políticas de recuperação de evasão e retomada de estudos pela via à distância.
Precisamos acelerar esse processo de inclusão de Tecnologias no processo educacional. Mas não apenas em salas de aula e não apenas para jovens.Usar o potencial da internet para colocar o conhecimento à disposição dos “aprendentes” e mudar o papel dos professores, transformando-os em curadores de conteúdo e “cutucadores”, incentivando debates (presenciais ou remotos) e exemplos e não simplesmente discursando na frente das turmas.
Mas o problema não é apenas o de defasagem escolar. O mundo do trabalho e emprego também vem sofrendo mudanças aceleradas que precisam de soluções novas.
Domenico de Masi, no seu último livro – O MUNDO AINDA É JOVEM – diz:
“… Nos próximos 10 anos, vamos cada vez mais teleaprender, teleamar, nos teledivertir, teletrabalhar. Ou seja, faremos cada vez mais coisas que independem do tempo e, graças à nuvem, também do espaço.”
E, mais adiante – “… Como vimos, o progresso tecnológico e a produtividade crescem em velocidade exponencial. Mas o efeito conjunto da Lei de Moore, do reconhecimento de voz, das plataformas de software, da nanotecnologia, da robótica, da inteligência artificial comporta o que alguns chamam de joblessgrowth, ou seja, o crescimento sem emprego“.
Isso quer dizer que precisamos de formas novas de aprender e re-aprender para nos capacitarmos para os trabalhos que ainda nem existem, mas que precisarão de “mentes de obra“ preparadas para executa-los. Precisaremos de mais pessoas aprendendo criatividade, iniciativa, habilidades para pesquisar e identificar informações verdadeiras e relevantes, analise de processos e problemas, cooperação, e certamente, “ Aprender a aprender“.
Novamente, nas palavras de Yuval – “… as escolas deveriam passar a ensinar os quatro Cs – pensamento crítico, comunicação, colaboração e criatividade.“
Em resumo, o tempo urge e não podemos abrir mão de um sistema de aprendizagem e formação de pessoas, aberto, variado, flexível, permanente e à distância de modo que as vantagens do Século XXI (SIM, ELAS EXISTEM E SERÃO MUITAS) possam ser aproveitadas por todos, e atingindo, certamente, o ODS4 da ONU.
Paulo Barreira Milet
Sócio diretor da eschola.com e da INOVA EAD e Consultor em Gestão,
Programas de Qualidade e Educação a Distância, com mais de 35 anos
de experiência em educação à distância, Bacharel em Matemática
pela UnB (1975), Pós-Graduado em Administração Pública pela
FGV-Rio (1982/83). Mestrando em Engenharia de Sistemas pelo
COPPE/UFRJ (1976/77) – especialista em Gestão de TI; Consultoria em
Programas de gestão e Qualidade e Especialização;
e pioneirismo em Educação a Distância.